Escassez de recursos desafia o têxtil

Inserida num concelho altamente industrializado e com uma taxa de desemprego baixa, a Inovafil conta com vários desafios de curto, médio e longo prazo, ao nível dos recursos humanos. A elevada faixa etária dos seus colaboradores abre portas à renovação, mas exige o reforço da estratégia de formação interna e de passagem de testemunho

É uma empresa jovem, nascida em 2014 no universo do grupo Mundifios (uma das Melhores Empresas Para Trabalhar, de acordo com o ranking anual da EXAME), com presença forte no sector têxtil, na zona de Famalicão. Reconhecida recentemente com o Prémio PME Inovação COTEC-BPI pela sua veia empreendedora e inovadora, a Inovafil dá cartas na investigação e desenvolvimento. A tecnologia de ‘fios inteligentes’, criados a partir de produtos naturais, que desenvolveu para os mercados de moda e dos têxteis técnicos valeu-lhe reconhecimento internacional e foi seleccionada recentemente, entre 20 empresas a nível mundial, para testar o novo sistema de fiação a jato de ar, que permite produzir vários fios ao mesmo tempo. Esta participação “prova o reconhecimento internacional mas implica, por outro lado, um comprometimento com a inovação que passou a ser um dos pilares da nossa produção”, disse Rui Martins, administrador da Inovafil, na cerimónia de entrega do prémio COTEC-BPI, que decorreu recentemente na Póvoa do Varzim.


Mas este desafio da inovação traz outros consigo, nomeadamente ao nível dos recursos humanos. É preciso preparar as equipas para operar com todas as tecnologias que já transformaram esta empresa numa fábrica 4.0, mas também é necessário estar constantemente à procura de talentos que possam colmatar as necessidades da Inovafil. O que nem sempre é fácil, admite o administrador. Por um lado, a empresa debate-se com a escassez de recursos especializados na região, muito industrializada, e com uma competitividade cada vez mais elevada entre os players do cluster têxtil. Por outro, a faixa etária elevada que domina nos seus quadros necessitará de ser substituída em breve. “Esperamos aposentações por reforma, num fluxo elevado, num futuro próximo”, revela Rui Martins, garantindo no entanto que a empresa está preparada. “Está em curso uma estratégia de recrutamento e de formação interna, para passagem de know-how”, salienta.


Esta estratégia de formação e requalificação assenta em duas vertentes. Uma, mais direccionada para jovens colaboradores, sem experiência na área, que possuem valências ao nível tecnológico, mas não ao nível têxtil. Neste caso, explica Rui Martins, a formação é feita “internamente, junto de colaboradores mais experientes, para passagem do conhecimento técnico têxtil”. Na segunda vertente, dedicada aos colaboradores com um horizonte temporal de trabalho considerável, com experiência na área têxtil mas limitações no domínio da tecnologia, a formação terá uma componente interna e outra externa, especializada.

Desligar do rótulo de têxtil tradicional


Atrair os melhores talentos é um desafio ainda mais difícil do que reter os que já estão na equipa. No entanto, Rui Martins acredita que factores como a política salarial atractiva, aposta em boas condições e num bom ambiente de trabalho fazem a diferença na hora da escolha. Paralelamente, acrescenta o CEO, “a Inovafil terá de continuar a mostrar-se ao mercado como uma empresa moderna, tecnológica e inovadora, capaz de se descolar do rótulo do têxtil tradicional, pois esta imagem é determinante para atrair os jovens que estão a entrar no mercado de trabalho e possuem uma visão diferente do mundo laboral”. Na opinião do administrador, a sustentabilidade financeira, a imagem no mercado e na opinião pública serão também factores determinantes para ultrapassar os desafios dos recursos humanos. Para chegar mais perto da nova geração de trabalhadores que está a terminar a sua formação académica média ou superior, a empresa terá de continuar a passar a mensagem de que já integra o grupo das organizações da Indústria 4.0, com elevado nível de digitalização e robotização dos processos industriais.


A proximidade com o meio académico, com quem desenvolve em parceria alguns dos projectos mais inovadores, é outra vantagem competitiva que a Inovafil tem para mostrar aos futuros talentos. Exemplo disso é o trabalho desenvolvido em conjunto com o Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil (2C2T) da Universidade do Minho, com quem criou um núcleo de investigação e desenvolvimento (I&D). Um dos frutos desta parceria é o Nidyarn, um núcleo de I&D para fios funcionais de elevado desempenho, a funcionar dentro da Inovafil com o apoio do programa Portugal 2020. Daqui já saíram produtos como o fio de mistura que absorve os raios solares e gera calor, apresentado numa feira de desporto em Munique em janeiro de 2018, e estão a ser testados outros, desenvolvidos em torno das nanofibras e das nanopartículas.
A Inovafil apoia também muito deste trabalho de inovação noutras entidades nacionais e internacionais. Com a alemã Smartpolymer desenvolveu a Cell Solution Clima, que permite regular a temperatura dos tecidos, ou a Cell Solution Protection, com proteção contra insetos.

Sustentabilidade e crescimento


Produzir as melhores fibras a partir do meio ambiente, sem intervenção química e promovendo a sustentabilidade é outra das missões da Inovafil, de onde saem já fios produzidos a partir de urtigas, cânhamo, fibra kapok, poliéster reciclado e algodão orgânico. Matérias-primas ecológicas cujos fios podem dar origem a vestuário desportivo, entre outras aplicações, com propriedades dermatológicas antialérgicas. A empresa acumula certificações para a qualidade e inovação e desenvolvimento com outras como a BCI (Better Cotton Initiative), GOTS, ou GRS (Global Recycled Standard), para empresas que produzem ou vendem artigos com conteúdo reciclado. Estas apostas resultaram em crescimentos contínuos nos cinco anos de actividade. Em 2018 a Inovafil faturou 21 milhões de euros, mais 15% que no ano anterior. Para 2019, as expectativas são também muito positivas, apesar de o ano ter sido pouco animado no sector.


Os mercados de exportação também têm aumentado, com a Europa a absorver a maior parte das vendas para o exterior e os Estados Unidos a crescer muito, pesando já 40% no volume de negócios. Em 2020 a Inovafil prevê alargar o portefólio com a compra de uma nova tecnologia que permitirá diferenciar ainda mais a sua oferta.

Os números do sector:

2018
• 138 mil postos de trabalho no têxtil

Futuro
• Sector têxtil vai perder 2 mil empresas e 28 mil empregos em seis anos
• Redução de 80% da exportação para Europa, que poderá ser compensada com novos mercados como EUA, Canadá e Ásia

5 passos para a liderança mundial:
• Desenvolvimento do conhecimento e produtividade;
• Evolução do design e criatividade;
• Investimento na inovação tecnológica;
• Aposta na internacionalização e aumento das exportações;
• Promoção da sustentabilidade

Fonte: Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP)

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