A transformação digital está a tornar as fábricas mais apetecíveis para quem procura um desafio profissional assente na tecnologia. Na AMF Safety Shoes o employer branding está a dar frutos e ajuda a atrair novos talentos
Se percorrermos os corredores de uma feira de emprego já não encontramos apenas grandes multinacionais ou tecnológicas mas também – e cada vez mais – empresas dos chamados sectores tradicionais. Como a AMF Safety Shoes, sediada em Guimarães, que produz calçado de segurança para a indústria automóvel, retalho e petrolífera. Nesta fábrica a tradição já não é o que era: hoje atrai talentos para um projecto apetecível e inovador, que produz calçado com tecnologia de ponta. “A indústria do calçado compete em Portugal com as empresas tecnológicas que absorvem muitos recursos, quer recém-formados quer existentes no mercado, uma vez que são mais atractivas, pelo menos de nome, do que um sector historicamente mais conhecido por processos manuais e menos tecnológicos,” revela Rui Moreira, director-geral da empresa.
Para combater esta tendência e mostrar que a indústria tradicional pode ser moderna, inovadora e atractiva, a AMF aposta cada vez mais na apresentação do seu negócio fora de portas, em feiras de emprego, junto dos stakeholders locais e em redes sociais como LinkedIn, Facebook e Instagram, dando a conhecer as boas práticas de gestão de pessoas e outros atractivos. “O movimento de employer branding também ganha terreno”, garante o responsável da empresa que assume, ainda assim, ser mais difícil atrair novos recursos do que retê-los.
O trabalho realizado internamente, numa lógica de parceria entre as áreas de Recursos Humanos e de Marketing, ajuda a manter satisfeita a equipa e potencia a retenção do talento. “Os Recursos Humanos assumem um papel estratégico neste processo, mas compete às chefias e a cada responsável assumir diariamente um papel de liderança e de mentoring, que resulte no sucesso dos colaboradores, das equipas e, consequentemente, da organização”, reforça Rui Moreira.
O desafio da Indústria 4.0
Numa indústria que abraça o digital, os colaboradores assumem protagonismo na mudança cultural e de atitude das equipas. “A forma de encararmos o negócio terá de ser radicalmente diferente pela rapidez, flexibilização e introdução de novas tecnologias no processo produtivo”, afirma Rui Moreira, para quem “um dos factores críticos de sucesso do papel dos recursos humanos na AMF passa por aproximar processos, pessoas, produção e estratégia da empresa”. Para o director-geral, as equipas têm de ter metas claras e acções alinhadas com os principais objectivos do negócio, sob pena de perderem para a concorrência.
Mas para que tudo funcione internamente é preciso dar resposta a outro desafio: a formação e requalificação dos colaboradores, essencial para a sua satisfação e motivação e para a adaptação à nova realidade da Indústria 4.0. “É fundamental dotarmos os nossos colaboradores de competências técnicas, de gestão e com capacidade de interpretação de dados para actuarem em tempo real”, destaca Rui Moreira.
Apesar da importância óbvia dos conhecimentos técnicos, na AMF o plano de formação não descura o desenvolvimento de competências pessoais. “Toda a forma de interacção não deve ser suportada apenas por conhecimento mais técnico, mas também pela capacidade de análise crítica, criativa e colaborativa, potenciada pela adopção de uma plataforma interna para a gestão de projectos e de tarefas colaborativas, que aumentou exponencialmente a partilha de informação e interligação de equipas”, revela o director-geral.
E porque, na nova indústria, a tecnologia é omnipresente, grande parte da formação e requalificação das equipas passa agora por plataformas tecnológicas de aprendizagem. “Tiramos partido de plataformas como o e-learning para adequação de disponibilidade das equipas e processo produtivo”, exemplifica o responsável. Uma das decisões estruturais para o suporte de todos os processos de transformação digital foi a criação de um departamento de informática interno que permite endereçar todos os desafios locais e as várias integrações e interacções com clientes e fornecedores. “Tradicionalmente não seria necessário o IT numa fábrica de calçado ”, diz Rui Moreira. No entanto, a mudança de paradigma a isso obriga. Deste pequeno departamento de duas pessoas saem todos os projectos, da sensorização de máquinas e incorporação de identificação por radiofrequência (RFID) a algoritmos de previsão de encomendas com integração de clientes, tudo em tempo real. “Mas não podemos ficar por aqui”, reforça o responsável. “Termos como digital twins e até blockchain já fazem parte das nossas próximas ideias de interacção”.
Produção de qualidade, a preço competitivo
Há 20 anos, quando nasceu pelas mãos de Albano Miguel Fernandes, a AMF Safety Shoes fabricava cerca de 250 pares de sapatos por dia e tinha duas dezenas de funcionários. A busca constante pela inovação e pela criação de técnicas próprias que lhe permitissem ser competitiva sem perder a qualidade levou a empresa à actual dimensão. Todos os dias saem cerca de 4 mil pares de sapatos da fábrica de Guimarães, produzidos por centena e meia de colaboradores apoiados pela mais inovadora tecnologia, seguindo para mais de 35 geografias, entre Europa, América do Norte e América do Sul, através da marca ToWorkFor.
É precisamente pela tecnologia que a empresa procura diferenciar-se e concorrer com fabricantes asiáticos (China e Indonésia) onde está cerca de 87% da mão de obra deste produto, reconhecidos pelos seus preços baixos, mas sem currículo de qualidade positivo. O seu grande projecto actual é introduzir o 3D Bonding, desenvolvido por uma empresa nascida na Universidade de Alicante, em Espanha. Com esta tecnologia será possível reduzir o processo de produção de um sapato – eliminando a costura e montagem – baixando assim muito os custos. O procedimento une todas as peças que compõem um sapato com um único shot de injeção. A AMF Safety Shoes é a primeira empresa a industrializar esta tecnologia a nível mundial e detém o uso exclusivo para a Europa.
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