Opinião de João Neves: A Importância do Digital par um País 4.0

Nos últimos anos temos assistido a profundas mudanças da organização económica, em resultado da introdução de um conjunto de tecnologias digitais nos processos de produção, na relação entre os vários intervenientes na cadeia de valor, na relação com os clientes e fornecedores, que suscitaram mesmo mudanças nos modelos de negócio. Tal tem permitido optimizar os sistemas de produção e os mecanismos de planeamento, redesenhar os sistemas organizacionais, diminuir os custos associados e melhorar a eficiência na utilização dos recursos humanos das empresas.

Num mundo em que tudo muda tão rapidamente, desde o processo produtivo, passando pela forma como as empresas se relacionam e fazem negócios, o conhecimento e a inovação tecnológica assumem hoje um papel fundamental.

Assim, numa conjuntura de aceleradas mudanças, com uma concorrência global cada vez mais exigente e com uma dinâmica de inovação mais acelerada, as empresas portuguesas têm hoje grandes desafios pela frente.

É nesse contexto que têm surgido um conjunto de políticas públicas de apoio à digitalização da economia – e que consolidam na estratégia/no programa “Indústria 4.0”. Foi com o programa Indústria 4.0 que começámos, de forma estruturada, a colocar no centro do debate público a importância da transformação digital da economia, e a fomentar e apoiar as empresas portuguesas neste processo de transição para uma economia digital, assente na inovação, na tecnologia e no conhecimento.

Os resultados até agora conhecidos são animadores: das 64 medidas da 1.ª fase, 95% estão executadas, 25.000 empresas e 530 mil pessoas foram mobilizadas e 25 milhões de euros investidos. Para além disso, este ano, segundo os resultados recentes do European Innovation Scoreboard, Portugal é o 13.º país mais inovador na Europa, quando em 2016 era o 18.º e soubemos ainda este mês que Portugal tem três regiões na frente da inovação europeia, ultrapassando países como Espanha, Itália ou República Checa, sendo mesmo considerado o mais inovador ao nível das PME´s.

O Governo tem apostado no desenvolvimento de políticas públicas com especial foco na aplicação de conhecimento em novos produtos e processos produtivos, incentivando novos modelos organizacionais e a criação de novas empresas de base tecnológica, contribuindo para fortalecer o ecossistema de inovação. Estas políticas e a qualidade e determinação das empresas portuguesas têm permitido que se registe, nos últimos anos, uma mudança de paradigma na relação entre conhecimento e economia, focado numa maior intensidade da colaboração entre empresas e centros de saber.

Ora, esta revolução digital, envolvendo todos os sectores da economia, exige recursos e empenho de todos para que possamos estar na linha da frente e aproveitar as oportunidades que daí advenham. E se em outros períodos da história Portugal não possuía condições para convergir e acompanhar o ritmo das mudanças económicas, hoje dispomos de condições para sermos dos países que melhor podem aproveitar as oportunidades que decorrem das transformações assentes no digital.

Senão, vejamos: temos a geração mais qualificada de sempre, dispomos de infraestruturas digitais de enorme qualidade, as empresas portuguesas têm hoje uma grande capacidade de adaptação e de especialização e a marca Portugal é hoje reconhecida internacionalmente, valorizando a produção portuguesa e abrindo portas para outros mercados e segmentos.

“O PAÍS, NUM ESFORÇO COLECTIVO PÚBLICO E PRIVADO, TEM DE CONTINUAR A APOSTAR NA INOVAÇÃO, NA TECNOLOGIA E NA DIGITALIZAÇÃO DA SUA ECONOMIA”

Ora, é neste contexto que o País, num esforço colectivo público e privado, tem de continuar a apostar na inovação, na tecnologia e na digitalização da sua economia para continuar a crescer a convergir com a média da UE. Foi com esse espírito que lançámos a 2.ª fase do programa Indústria 4.0 tendo por base contributos de mais de 50 entidades, assentes na mobilização, formação e capacitação das empresas e dos recursos humanos.

Nesta nova fase, projectada para 4 anos, pretendeu-se apostar na adaptação das PME ao digital, na formação de recursos humanos, no estímulo à integração das cadeias de valor dos fornecedores e parceiros das grandes empresas e das PME líderes nos temas i4.0, e na adaptação e criação de fundos e linhas de apoio à tipologia e diversidade de projectos no âmbito da i4.0. Para além disso, importa desenvolver uma rede nacional equilibrada e colaborativa de Digital Innovation Hubs e disponibilizar mecanismos de formação orientados para as necessidades específicas e em formatos compatíveis com as PME, criando as chamadas “Learning Factories”.

A estas iniciativas associam-se outros mecanismos previstos no programa i4.0 que nos primeiros dois anos mobilizarão 600 milhões de euros.

Para atingir os resultados desejados será fundamental manter e acelerar a execução do plano traçado a médio-prazo. Importa ainda garantir que a transformação digital seja feita em rede, aliando o programa i4.0 a outros projectos e programas em curso, como o programa Interface, em especial em áreas que possam estimular as actividades colaborativas e eficiência colectiva: as políticas de Clusters, os Laboratórios Colaborativos e Centros de Interface. Este é, portanto, um período determinante para aquilo que seremos enquanto País na próxima década. A mobilização, o entusiasmo e a determinação de todos, agentes públicos e privados, será decisiva para determinar que País seremos daqui a 10 anos. Mãos-à-obra!

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