O Exemplo de Quem vai à Frente

A distinção das melhores práticas de inovação e transformação digital pode ser um estímulo acrescido e determinante para que outros players desencadeiem os seus próprios processos de mudança

Uma das formas de disseminar bons exemplos é premiar e divulgar aqueles que se distinguem pela positiva. Desta forma é possível dar a conhecer e até replicar as boas práticas na gestão industrial, em particular ao nível da inovação e da digitalização.

É este o mote do Prémio Europeu de Excelência Industrial, promovido pelo INSEAD, pela HEC Paris e pela WHU – Otto Beisheim School of Management e que pretende reconhecer a nível europeu empresas que se distinguem pela sua qualidade de gestão. Nos restantes países da Europa, o prémio, que já tem mais de duas décadas de existência, é organizado por instituições de prestígio, tal como a Cambridge Business School ou a Universidade de Bocconi. Esta distinção visa identificar e promover processos industriais e de gestão de excelência em cadeias de valor industrial, com resultados expressivos ao nível da melhoria de custos, serviços, qualidade e flexibilidade das operações, e que tenham um impacto significativo na competitividade das empresas. Em 2018 foi distinguida a Hello Fresh, a multinacional de origem alemã líder nos Estados Unidos no fornecimento de refeições prontas em kit.

Também no ano passado, o prémio foi integrado na Plataforma Indústria 4.0 e promovido pela COTEC e pela AESE Business School em Portugal. Numa primeira fase serão escolhidas, pela COTEC, AESE e IESE, cinco empresas finalistas que serão visitadas, sendo assim seleccionado um vencedor nacional. Este vencedor irá competir com os congéneres oriundos de França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha, Turquia, Suíça e Reino Unido. A cooperação entre a COTEC, AESE e IESE é, pois, fundamental para disseminar conhecimento e estreitar relações com as empresas nacionais, contribuindo assim para a excelência na gestão e liderança das organizações. Esta é mais uma iniciativa que tem por objectivo promover a inovação e a Indústria 4.0 em Portugal.

Avaliar a excelência industrial em diversas áreas de actividade, e a uma escala europeia, requer um enquadramento robusto baseado em factores sólidos que promovam um desempenho superior. Investigadores da INSEAD e da WHU e ainda membros das universidades parceiras desta iniciativa desenvolveram, ao longo de duas décadas, um enquadramento e uma ferramenta de avaliação com reconhecimento internacional, denominada de Qualidade de Gestão.

TMG E SOLANCIS: A EXCELÊNCIA NACIONAL

A nível nacional podemos encontrar diversas empresas que se distinguem na forma como trabalham nos diversos setores de atividade em que se inserem. Um dos casos de estudo da AESE, em parceria com a COTEC, é o da TMG Automotive, empresa do universo da TMG (Grupo Têxtil Manuel Gonçalves), na qual se trabalha a pensar no futuro. Em 2008, a TMG Automotive entrou num novo ciclo da sua vida e centrou a sua competitividade na inovação a três níveis: produtos, processos e pessoas. Em 1995, a empresa ligada ao universo têxtil do Vale do Ave, investiu num produto à base de plástico, revolucionário na altura, e que constituiu a génese da nova unidade que viria, mais tarde, a especializar-se no revestimento do interior de automóveis. Em 2004 autonomizou-se e constituiu-se a TMG Automotive, que fabricava apenas para a área automóvel. Nessa data, quando surge a crise no sector automóvel, estava então a empresa a meio de um investimento de 30 milhões de euros. Na altura a gestão decidiu fazer uma maior aproximação aos clientes, apostar em novos produtos e subir na escala de valor. A empresa produz toda a gama de materiais flexíveis do veículo usados em painéis de instrumento, painéis de portas, assentos, consolas centrais, foles de alavanca e travão de mão, pala de sol, entre outros.

Em 2018, a TMG Automotive, que factura aproximadamente 123 milhões de euros, arrancou com a laboração de uma nova fábrica de 25 mil metros quadrados, em Famalicão, um investimento de 45 milhões de euros e que aumenta consideravelmente a sua capacidade produtiva. Com 95% de exportações, a empresa fornece as marcas mais exigentes a nível mundial, como Opel, Toyota, Daimler, BMW, Mercedes, Volvo, Jaguar, Porsche e Lamborghini.

Uma das suas inovações, ainda hoje referência no mercado, foi a introdução de tecidos com poliuretanos com coagulado para envolver as alavancas de velocidades e o travão de mão, na década de 1980. Mais recentemente foram significativas inovações como a introdução de Digital Printing na superfície dos materiais de interiores e a utilização de nanopartículas no material de superfície do painel de instrumentos para melhoria de performance. Na área dos processos, a gestão implementou a organização matricial como ferramenta de inovação organizacional. No que diz respeito às pessoas, a área de Investigação e Desenvolvimento emprega mais de 50 pessoas e ainda estabeleceu parcerias com centros universitários e de engenharia em Portugal e no mundo.

O PRÉMIO EUROPEU DE EXCELÊNCIA INDUSTRIAL EXISTE HÁ MAIS DE DUAS DÉCADAS. EM PORTUGAL É PROMOVIDO PELA COTEC, AESE E IESE

A Solancis é outro caso de excelência industrial, pois conseguiu com mestria fazer a transição digital de um sector considerado tradicional. A empresa, que nasceu em 1969, dedica-se à extracção, corte e modelagem de pedra proveniente das suas pedreiras localizadas nos arredores da sede, na Benedita. Trata-se de blocos de calcário, oriundo das Serra d’Aire e Candeeiros que são laminados e modelados conforme os projectos a que se destinam. Apesar de não parecer, todo o processo está envolto em inovação, e foi esta que a catapultou para a liderança do mercado nacional, e uma das mais importantes posições na Europa, no sector da pedra natural. O espírito crítico de Samuel Delgado, sócio e administrador, e o seu conhecimento profundo do mercado, fez com que, a partir do ano de 2003, a Solancis investisse em variadíssimos projectos inovadores. Em 2010, por exemplo, a empresa instalou o seu próprio laboratório que lhe permite um maior controlo de produção e da qualidade dos produtos finais. Estes são apenas dois dos casos de excelência industrial nacional, de quem se soube adaptar aos desafios da tecnologia e vencer adversidades, mas muitos outros haverá para relatar e premiar.

Desenvolvido em parceria com:

Relacionados