Suécia, Holanda, França, Reino Unido e Alemanha ocupam, entre os 28 Estados-membros da UE, o pelotão líder no que diz respeito às ‘fábricas inteligentes’ e estão a par dos melhores a nível global. Contudo, para que ninguém fique para trás, a Comissão Europeia lançou, em 2016, a estratégia para a Digitalização da Indústria, uma iniciativa integrada no chamado Mercado Único Digital.
Os primeiros programas e iniciativas para a transformação digital na Europa começaram a ser lançados em 2011, potenciando o aparecimento de estratégias nacionais para o desenvolvimento digital e inúmeros programas de inovação. O velho continente começava, assim, a reinventar a sua indústria que, em muitos casos, caíra quase no abandono nas últimas décadas. Oito anos depois, o 4.0 já alterou o panorama industrial europeu, e os países que lideram na inovação servem agora de exemplo para os que ainda estão a dar os primeiros passos. Em simultâneo, este pelotão já compete em pé de igualdade com os Estados Unidos e continua a correr para tentar cortar a meta mais próximo de outros líderes globais, como a Coreia do Sul, o Japão ou, um pouco mais atrás, a China.
A iniciativa de alguns países europeus, e os seus resultados mais visíveis, motivaram a Comissão Europeia a apostar numa estratégia comum, que lançou em Abril de 2016, com o objectivo de apoiar o processo de transformação dos estados-membros. Integrada no mesmo projecto, a Plataforma Europeia das Iniciativas Nacionais para a Digitalização da Indústria foi desenvolvida por Bruxelas, com a meta de partilhar experiências e boas práticas entre os países, mas também de promover a colaboração e de dinamizar investimentos conjuntos, uma vez que os desafios que se colocam são comuns aos 28. A instituição acredita que, sem uma abordagem de âmbito europeu, será impossível evitar a fragmentação do mercado.
Olhando para o panorama actual, e à semelhança das conclusões retiradas pela Comissão Europeia no estudo ‘Digitising European Industry – Reaping the full benefits of a Digital Single Market’ realizado em 2016, apesar da dinâmica que já era então visível em alguns sectores económicos como a saúde, automóvel, telecomunicações, software empresarial ou indústria avançada, isto não é suficiente para que a UE se apresente ao mundo como um mercado líder e desenvolvido no que toca à i4.0. Para que tal aconteça será necessário que outros sectores, considerados mais tradicionais – construção, agroalimentar, têxteis ou metalurgia – acelerem a sua transformação digital.
O mesmo se aplica às PME, que representam uma enorme fatia do mercado empresarial dos 28. Sem este passo, a Europa estará condenada a marchar a duas velocidades e “a indústria europeia arrisca-se a ficar para trás no que diz respeito a construir as fundações do seu futuro digital”, pode ler-se no referido estudo.
Conclusão semelhante apresenta a mais recente edição do Digital Economy and Society Index (DESI) que considera que nem as maiores economias europeias podem ainda ser consideradas pioneiros digitais e que, além disso, há um enorme trabalho a fazer nos mercados de menor dimensão se, diz o relatório, “não quisermos que fiquem para trás”.
AGARRAR A OPORTUNIDADE
Num sector que, a nível europeu (UE28), conta com dois milhões de empresas e que já representa cerca de 60% do crescimento da produtividade da UE, a importância da modernização e da transformação é enorme e, em simultâneo, uma oportunidade que não pode ser desperdiçada. Ainda de acordo com o estudo ‘Digitising European Industry – Reaping the full benefits of a Digital Single Market’, nos próximos cinco anos, a digitalização de produtos e serviços pode fazer crescer a receita anual dos 28 em 110 mil milhões de euros. Deste valor, e segundo dados do Boston Consulting Group, mais de um terço corresponderá ao aumento das receitas anuais da indústria alemã (30 mil milhões de euros). Já se olharmos para o crescimento da produtividade neste país, a consultora prevê que seja de 8% nos próximos dez anos, considerando apenas o impacto directo da digitalização da indústria.
Em Portugal, a indústria 4.0 também já mexe, com cada vez mais iniciativas do sector privado, apoiadas pela Iniciativa i4.0, iniciada em 2017, e que entra agora na segunda fase de desenvolvimento e de implementação. Por cá, os primeiros resultados também já estão à vista, com um conjunto de projectos inovadores que, ao longo dos últimos anos, revitalizaram a indústria nacional e estão a torná-la num sector mais atractivo, quer em termos de investimento e negócio, quer como desafio profissional.
Para a segunda fase que agora se inicia, os objectivos são ainda mais ambiciosos. Segundo dados da COTEC, durante os próximos dez anos espera-se que a transformação digital na indústria chegue a cerca de 20 mil empresas e que sejam apoiados e financiados mais de 350 projectos i4.0. Já no que se refere à requalificação dos recursos humanos para as exigências da ‘nova’ indústria, a COTEC estima que esta atinja cerca de 200 mil trabalhadores.
Actualmente, entre as 29 economias europeias analisadas pela Deloitte, em parceria com a Siemens, Portugal aparece na 15ª posição no que se refere à maturidade digital das empresas nacionais. Isto significa que, em geral, as empresas estão atentas e que o País se encontra numa fase de transição. Diz o estudo que o ambiente nacional é razoavelmente bom para o desenvolvimento de iniciativas digitais mas que as organizações, apesar de atentas ao tema, ainda não colocaram este investimento no topo das suas prioridades.
À PROCURA DA LIDERANÇA
A interdisciplinaridade é um ingrediente fundamental para que a transformação da indústria europeia possa ser uma realidade nos próximos anos, e para que velocidade de desenvolvimento seja cada vez mais equiva
lente nos Estados-membros. Ainda assim, o caminho a percorrer parece ser longo e sinuoso. Segundo a Roland Berger, o desinvestimento que grande parte dos países da União Europeia aplicou à indústria durante várias décadas é agora um entrave a uma modernização mais célere. A consultora alemã estima que será necessário investir cerca de 1.35 biliões de euros durante os próximos 15 anos para que a UE possa chegar à liderança da 4.ª Revolução Industrial.
Mas, até lá, o trabalho de cooperação entre os países tem de guiar-se por linhas comuns. “Uma estratégia conjunta, bem definida, será sempre mais positiva”, acredita Marco Siebert, director de relações internacionais da Hannover Messe, que esteve em Portugal a propósito da 16.ª edição do COTEC Innovation Summit, que teve lugar em Famalicão no início de Julho. E este pode ser o grande factor de diferenciação da Europa face a outras grandes potências mundiais. “A UE tem a vantagem de ter vários países que podem trabalhar em conjunto por um objectivo comum”, reforça. Contudo, refere ainda o director da Hannover Messe, “são precisos países que liderem, temos que fazer mais e que provar muitas coisas ao mundo. É fundamental fazê-lo em conjunto”.
Do lado da Comissão Europeia a opinião é semelhante. “É urgente acelerar o desenvolvimento de padrões comuns e soluções interoperacionais, essenciais para o desenvolvimento da internet das coisas (IoT) e para garantir o fluxo de dados entre sectores e regiões”. Trata-se de criar uma linguagem de padrões, normas e regulamentação comuns, com prioridades em áreas bem definidas, tais como cibersegurança, tecnologias de dados, IoT, 5G e computação na nuvem. A Comissão Europeia acredita que, com uma definição rápida de normas comuns, a inovação e o crescimento das empresas será facilitada. Ainda assim, propõe-se cofinanciar o teste de tecnologias, em modelo de parceria público-privada, com o intuito de tornar mais rápida a definição destas normas e regulamentação europeias. Seja como for, alerta o Digital Economy and Society Index (DESI), “as propostas legislativas da UE têm que estar alinhadas com a aceleração digital, bem como grandes e pequenas empresas devem ser envolvidas no processo de criação das novas políticas e normas europeias”.
É de salientar que o sector das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) representa actualmente 4% do PIB europeu e que emprega aproximadamente seis milhões de pessoas, segundo dados da consultora PwC. Já o valor acrescentado bruto (VAB) do sector na UE é superior a 580 mil milhões de euros, o que equivale a 10% de toda a actividade industrial. Com a indústria 4.0, a consultora estima que estes valores podem disparar, reforçando a importância da mudança e modernização.
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