Portugal quer estar entre Líderes da Inovação

Com uma posição de inovador moderado, Portugal situa-se ainda na margem do grupo de países mid tier no seio da União Europeia. Nos próximos dez anos a ambição nacional passa por liderar este grupo melhorando a sua performance nos processos de inovação e de integração da Indústria 4.0.

A digitalização das economias está a acontecer um pouco por todo o mundo e é hoje uma realidade incontornável. Mais acelerada em algumas geografias do que em outras, mas ninguém pode deixar de acompanhar os desafios que exige a sobrevivência num futuro próximo. Todos os sectores e áreas de actividade, desde os mais tradicionais aos mais inovadores, deverão embarcar nesta viagem ou, caso contrário, poderão colocar em risco a sua própria sobrevivência.

I4.0 Ambição para a década - Indústria 4.0 - COTEC Portugal

“É inquestionável que a indústria do presente é muito diferente da do passado. Face às circunstâncias de evolução e às condições adversas tão constantes no passado recente, os industriais tiveram de se adaptar, modernizar e encontrar um novo modelo de especialização, o qual provou ser um sucesso. Somos hoje um país de excelência industrial, capaz de competir nos mais exigentes mercados”, afirmou Isabel Furtado, Presidente da Direcção da COTEC, no encerramento do 16.º COTEC Innovation Summit, que ocorreu no início de Julho em Vila Nova de Famalicão.

Portugal lidera o grupo dos países inovadores moderados com tendência a integrar o grupo dos “Inovadores Fortes” e acima de outros países com riqueza superior como Itália e Espanha. Além disso, Norte, Centro e Lisboa são tidas como regiões Inovadoras Fortes, as únicas na península Ibérica e no Sul da Europa. Segundo os resultados do Innovation Scoreboard 2019, realizado pela Comissão Europeia, a performance do país melhorou consideravelmente face aos dados recolhidos em 2011. Dimensões como Inovadores, Ambiente Favorável à Inovação e Sistemas de Pesquisa Atraentes, são as que mais se destacam, com valores acima da média europeia. Pontua mais do que favoravelmente em aspectos como a Inovação Interna das PME, Penetração de Banda Larga e PME com Processos ou Produtos Inovadores. Porém, se estes são os pontos fortes, as dimensões mais fracas situam-se ao nível do Impacto das Vendas e das Ligações, sendo o Licenciamento e Registo de Patentes, as Publicações Público-privadas e a Exportação de Conhecimento Intensivo os indicadores mais fracos a nível nacional.

De facto, o País gera conhecimento, mas ainda falha ao nível da transferência desse conhecimento para o mercado empresarial e sem essa passagem do conhecimento e inovação não se desencadeia uma forte aceleração económica. É, pois fundamental, conhecer bem a posição de Portugal face a esta transferência e sobretudo quais os handicaps ao desenvolvimento de uma verdadeira economia digital. “Num futuro próximo, senão já, todos se irão interrogar se as suas organizações estão preparadas para o nível de mudança que se antecipa.

Sabemos que apenas uma em cada quatro empresas portuguesas está tecnologicamente preparada para tirar partido da i4.0 e desta transição. Este número deve dar aos decisores políticos um sentido de urgência na procura de respostas que antecipem e reduzam os riscos estruturais para a economia e, consequentemente, para o emprego”, afirmou a propósito Isabel Furtado, naquele evento da COTEC.

O conceito Indústria 4.0 representa a transformação dos modelos de negócio das empresas através da adopção e integração de tecnologias que lhes permitam a agilidade necessária para se adaptarem às novas exigências do mercado. Em 2017 este desafio, que já se falava um pouco por todo o lado, ganhou um novo fôlego em Portugal com o lançamento de um programa dotado de 64 medidas estratégicas anunciadas pelo Governo. O objectivo foi colocar esta discussão na agenda política e procurar responder ao desafio de promover a digitalização da economia, de atrair investidores e gerar mais conhecimento.

Para definir a melhor estratégia o Governo rodeou-se de cerca de 200 empresas, convidadas a dar o seu contributo para assim se definirem as medidas orientadoras, e poder alcançar mudanças estruturais em cerca de 50 mil empresas, ao longo de quatro anos, e preparar cerca de 20 mil trabalhadores em competências digitais para assim enfrentarem a nova e exigente realidade do mundo dos negócios.

COTEC MOBILIZA E MONITORIZA

A COTEC Portugal, através de um protocolo celebrado com o Governo em Janeiro de 2017, ficou encarregue de implementar e monitorizar o Programa Indústria 4.0, com o objectivo de acelerar a incorporação dos conceitos e das práticas da Indústria 4.0 nas empresas nacionais e com isto promover o país como localização competitiva para o investimento em projectos de inovação.

Assim, esta associação empresarial está dedicada a acompanhar e supervisionar a Estratégia Nacional para a Digitalização da Economia, monitorizando todas as actividade nacionais em curso na área da Indústria 4.0 e recolhendo os seus resultados. Intervém ainda na dinamização dessas actividades, mobilizando todos os interessados, desde a sociedade civil às empresas, passando pelas entidades públicas e pelo Sistema Cientifico e Tecnológico.

Para Jorge Portugal, director-geral da COTEC, o facto de Portugal se manter a meio no ranking da inovação dentro da União Europeia não é uma posição que considere confortável para o país. Uma vez que as empresas nacionais competem com os melhores, é preciso retirar uma maior retorno do investimento realizado, afirmou numa recente entrevista. “Em média, as empresas portuguesas investem três vezes menos em novo conhecimento comparadas com as suas congéneres europeias mais competitivas e é por isso importante continuarmos o trabalho que iniciámos há mais de uma década na sensibilização aos empresários para a melhoria da qualidade da gestão e da inovação”, analisou Isabel Furtado no encerramento da 16.º COTEC Innovation Summit.

Para levar a cabo esta hercúlea tarefa a COTEC actua em três frentes, cujos eixos são designados pelos três “A”. O primeiro é Antecipar as forças que irão influenciar a transformação do negócio das empresas a prazo. Já o segundo eixo, Advogar, consiste em identificar oportunidades de melhoria dos instrumentos de política pública dirigindo-se à inovação. O terceiro é Activar, actuando sob a forma de broker de novas plataformas e ecossistemas de inovação, actividades com elevado potencial de retorno na aplicação de conhecimento, de crescimento e emprego qualificado.

Para materializar todo novo ângulo de acção, a COTEC desenvolveu a Plataforma Portugal i4.0, projecto que visa qualificar da melhor forma possível as PME nacionais para que possam enfrentar os desafios da digitalização industrial. Através dele pretende-se colmatar lacunas e deficiências na incorporação destes novos conceitos e tecnologias, reforçando competências de gestão e inovação e transformar conhecimento em valor económico. É fundamental, pois, sensibilizar e mobilizar as PME para o potencial das tecnologias disponíveis, estabelecer mapas orientadores e sobretudo criar ferramentas que acelerem e facilitem a absorção destes conceitos. Este será, pois, o maior desafio que as empresas portuguesas enfrentarão na próxima década e a COTEC terá um papel fundamental na identificação de tendências, boas práticas e disseminação do conhecimento junto do tecido empresarial. Fazendo um balanço dos dois anos de Programa, a fase mobilizadora e demonstradora está praticamente concluída, sendo fundamental a transição para a fase transformadora. Findos os primeiros dois anos, confirma-se que cerca de 95% das 64 medidas trabalhadas registaram resultados.

Assim, 44% foram concluídas, 41% apresentaram resultados, 11% apresentaram resultados preliminares e apenas 5% ficaram inactivas. Foram tocados por campanhas de sensibilização mais de um milhão de cidadãos, foram envolvidos directamente mais de 550 mil pessoas e 27 mil empresas. Nesta matéria, Portugal foi considerado benchmark pela Comissão Europeia no Digital Transformation Scoreboard (DTS), devido à sua abordagem bottom-up.

NECESSIDADE DO I4.0 SCOREBOARD

Porém, para que este acompanhamento e gestão sejam feitos da melhor forma, é fundamental conhecer bem a realidade das empresas portuguesas, sobretudo das PME. Este tipo de empresas representa cerca de 99% do tecido empresarial português e cerca de 78% do emprego nacional, sendo Portugal o segundo país da Europa com maior percentagem de sociedades desta dimensão.

Dada a importância destas empresas na economia nacional, a COTEC, em colaboração com a consultora KPMG, desenvolveu um i4.0 Scoreboard, que permitirá caracterizar a evolução da Indústria 4.0 em Portugal no seio das PME, assim como comparar a posição do país face aos seus pares europeus, identificar áreas de melhoria e traduzir os impactos da digitalização na economia e na sociedade. Este i4.0 Scoreboard é uma ferramenta que visa medir as condições de base e a competitividade das PME portuguesas ao nível da Indústria 4.0, tendo por base o índice sintético i4.0 Index. Este índice mede o desempenho de 18 países da União Europeia segundo as suas condições de base (Prontidão) e a competitividade das PME no contexto da indústria 4.0 (Integração), sendo composto por oito dimensões, avaliadas em 35 indicadores. Utiliza como principais fontes as bases de dados do Eurostat, do Banco Mundial e do The Global Competitiveness Index.

No pilar Prontidão avaliam-se factores que não dependem directamente das PME e que representam as condições de base da Economia i4.0. Dentro deste pilares analisam-se dimensões como a Oferta de Competências Digitais, o Investimento e Financiamento, Ecossistema Tecnológico e de Inovação e Ambiente Regulatório e de Negócios. Já o pilar Integração inclui factores que dependem directamente das empresas e que são, por isso, representativos da sua performance no âmbito da indústria 4.0. Estratégia, Modelo Operativo e de Negócio, Tecnologias I4.0 e Aplicação das Competências Digitais são, pois, as dimensões analisadas.

O índice utilizado visa a identificação de relações entre os indicadores, a pontuação no índice e os impactos macroeconómicos, exibindo uma relação positiva entre o desempenho no i4.0 Index e o crescimento económico medido pelo PIB per capita.

Segundo este modelo, estima-se que um aumento de um ponto no i4.0 Index resulte num crescimento do PIB per capita de entre 2,1% e 2,4% em cinco anos. Ou seja, o aumento de um ponto do i4.0 Index de Portugal, que pertence ao grupo de países mid-tier (os do meio da lista), seria suficiente para colocar o nosso país na liderança deste grupo. Segundo o i4.0 Index, Portugal ocupa a 12.ª posição, encontram-se na cauda do grupo de países moderados, e com uma diferença de apenas 0,7 pontos relativamente à Itália, o primeiro país do grupo mais atrasado. Ou seja, está mais próximo do grupo de países mais atrasados do que do grupo dos países da liderança. O índex é liderado pela Finlândia, seguida da Suécia e da Holanda, da Dinamarca, da Alemanha e do Reino Unido, o último país do lideres.

Analisando mais concretamente a performance de Portugal, o país apresenta um desempenho relativo semelhante em termos dos dois pilares, Prontidão e Integração, ambos em 11.ª posição sendo o Ecossistema Tecnológico e de Inovação, e a Estratégia Corporativa, as dimensões em que apresenta uma maior lacuna. A melhor performance, quando comparado com os seus pares, situa-se na dimensão Modelo Operativo e de Negócio, que ocupa o sétimo lugar. Já as dimensões com pior classificação são as de Tecnologias i4.0 e Ecossistema Tecnológico e de Inovação. Já na dimensão Estratégia, Portugal apresenta uma performance inferior à média do grupo de países na liderança e do grupo de países do meio.

Pode concluir-se que Portugal apresentou um resultado positivo, entre 2016 e 2017, na maioria das dimensões, mas ainda assim a um ritmo inferior ao dos seus pares. Na área das Competências Digitais, as empresas, quer na área da oferta quer na da aplicação, registaram uma evolução própria positiva, para a qual poderá ter contribuído o lançamento de algumas medidas como as pertences à I Fase do Programa Indústria 4.0 e a iniciativa nacional em competências digitais, mas registaram uma evolução relativa negativa uma vez que tiveram uma progressão mais lenta do que a média dos outros países. A dimensão Modelo Operativo e de Negócio apresentou um decréscimo na generalidade dos indicadores, com destaque para o indicador PME que Venderam Através de um Site ou Aplicação (B2B e B2G).

O interesse do presente estudo prende-se, contudo, não apenas na avaliação da situação da PME portuguesas como em poder avançar com pontos de melhoria, traçando uma estratégia de actuação. Segundo a COTEC Portugal e a KPMG, tendo presente a actual situação tornou-se importante definir objectivos e estratégias direccionadas à melhoria da competitividade de Portugal no contexto de i4.0, suportadas pelo modelo de impactos do i4.0 Index, que tem como objectivos identificar os potenciais benefícios resultantes das melhorias introduzidas, avaliar as relações entre variáveis e as estratégias, restringir as acções a determinados períodos e orçamentos, e finalmente ter em consideração o crescimento dos outros países.

Este modelo incorpora características que lhe concedem maior proximidade com a realidade, como, por exemplo, a não linearidade dos factores, a lógica competitiva e a limitação dos recursos e é uma base de trabalho para suportar as estratégias de investimentos e políticas públicas para acelerar a transição digital da indústria portuguesa.

PME SUBESTIMAM DESAFIOS DO 4.0

“Portugal está a revelar-se um país inovador, através da sua indústria e das suas empresas, porque estas estão a incluir dentro dos produtos que desenvolvem uma ligação aquilo que é o essencial na Indústria 4.0, ou seja, as plataformas digitais, de forma a utilizar esses dados e conteúdos de uma forma mais inteligente, mais eficiente e com maior durabilidade e com custos de manutenção mais baixos e com maior valor para os utilizadores”, afirmou Jorge Portugal à imprensa, à margem de um debate sobre Indústria 4.0. que decorreu na Marinha Grande. Para este responsável, as empresas portuguesas estão a inovar transformando produtos tradicionais, em produtos mais avançados, com maior desempenho a partir da aplicação de tecnologias e conceitos de digitalização. Este especialista reforça a ideia que a indústria 4.0 vai permitir às empresas nacionais serem ainda mais flexíveis, e estarem mais alinhadas com as necessidades dos clientes.

“O modelo de competitividade industrial português assenta nas pequenas séries, em estar alinhado com as especificidades do cliente e poder responder rapidamente. Esta revolução vem optimizar esta capacidade, mas acima de tudo, dar novas oportunidades para inovar mais depressa, com menos risco”, afirma. A nova revolução industrial chega transversalmente a todos os sectores, mesmo aos chamados tradicionais, como o dos têxteis, calçado, mobiliário, ou indústrias extractivas.

Segundo o relatório realizado por Roland Kupers, consultor e investigador holandês, especialista em temas como a mudança e os seus desafios, a pedido da COTEC Portugal, as PME portuguesas ainda subestimam os reais desafios que a indústria 4.0 trará. O relatório resulta de uma série de entrevistas realizadas a PME portuguesas entre Julho e Novembro de 2018, oriundas de várias áreas de actividade: pasta e papel, alimentação, tecnologias de informação, automação, sistemas industriais, robótica, calçado, farmacêutica, mobiliário de escritório e cerâmica.

As entrevistas, de cerca uma hora, acompanhadas pela COTEC Portugal, foram realizadas com os CEO e os directores de marketing das empresas e serviram para identificar alguns tópicos importantes sobre o tema da Indústria 4.0.

Durante a apresentação destes resultados no evento da COTEC Portugal em Vila Nova de Famalicão o consultor referiu que “estas empresas não são representativas do todo, porque estão mais bem preparadas, são companhias de sucesso, mas que para este tipo de abordagem sobre transição não estamos preocupados com isso, porque a inovação e o conhecimento acontecem no topo dos sistemas, daí que estas sejam as pessoas certas para perceber qual a dinâmica em torno da indústria 4.0”. Este especialista salienta ainda que uma coisa comum a todas as entrevistas é que os gestores têm consciência que não podem avançar para a 4.ª Revolução Industrial sem terem implementado com eficiência a terceira. “E há ainda muito para fazer na terceira revolução. E não é sobre sobre computadores, é sobre processos, standardização, todo um trabalho de gestão one-on-one que é absolutamente necessário para se avançar para a próxima fase. E isto, como os gestores sabem, também não é fácil”, afirma.

Roland Kupers identificou cinco áreas de intervenção e recomenda uma lista de 11 iniciativas para melhorar a convergência. Destaca como a primeira área dar prioridade à redução da lacuna existente no âmbito das capacidades; segue-se a necessidade de criar plataformas colaborativas; é igualmente importante dar mais atenção ao impacto das alterações climáticas; identifica que há empresas que subestimam o desafio da quarta revolução industrial; e por último dar importância à ética, standards e regulamentação.

Todos estes dados recolhidos e medidos têm um propósito: o de alavancar a posição de Portugal na área da indústria 4.0, da digitalização, aumentando a competitividade da economia. A Fase II do Programa Indústria 4.0 foi lançada em Abril último e a ambição é, numa coordenação conjunta da COTEC e do IAPMEI, a convergência de Portugal para o grupo dos países na liderança, o que poderá representar anualmente um crescimento adicional de 1,8% no PIB nacional. Estima-se que numa década, se possam requalificar mais de 200 mil trabalhadores, num processo que envolverá cerca de 20 mil empresas, e cerca de 350 projectos de transformação financiados. Para já, nos próximos dois anos serão canalizados mais de 600 milhões de euros, entre financiamento público e privado, com destino à melhoria da posição portuguesa nos rankings desta matéria.

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