A capacitação dos recursos humanos foi um dos seis eixos de atuação prioritária na definição inicial do Indústria 4.0 (i4.0) e cerca de um terço das 60 medidas previstas estão relacionadas com esta área. Em que é que foi possível intervir neste domínio?
A respostas do IEFP não se esgotam no contexto do i4.0. Incluímos na formação contínua um módulo de capacitação na área das tecnologias da informação e comunicação (TIC) para que todos tenham um nível básico de literacia neste domínio. Consolidámos a rede de Academias Microsoft (onde os formandos obtêm competências e certificações). E estabelecemos o programa Parcerias Competências Digitais + com 14 politécnicos para requalificar desempregados licenciados em áreas de menor empregabilidade e disponibilizar às tecnológicas – que têm muita dificuldade em recrutar – pessoas qualificadas em programação, análise de dados, cibersegurança ou multimédia. Este ano teremos formação para a cidadania digital e no ano que vem na área do online.
As transformações tecnológicas trazidas pela Indústria 4.0 já estão a ter reflexos claros no mercado de trabalho em Portugal?
Os cenários de total reconfiguração, com supressões e transformações de empregos, ainda não estão tão vincados como apontam alguns estudos. Mas já há mudanças sensíveis. A principal é mais silenciosa e tem mais impacto: a incorporação crescente das tecnologias digitais na actuação das empresas e nos empregos. Há necessidades em sectores como as TIC, a indústria metalomecânica (automação na produção, robótica, electrónica) e os sectores automóvel e aeronáutico. Esta transformação é global e tão acelerada que muitas vezes não nos damos conta de como vai alterando a forma tradicional de muitos empregos. É preciso vigiar e criar condições para a requalificação. Plataformas como o i4.0 e o INCoDe.2030 são importantes para articular melhor dinâmicas de apoio à economia e à inovação com respostas de formação profissional.
Que contributo é que a Indústria 4.0 (através de novas competências e novas funções requeridas pelas empresas) teve na recuperação de emprego verificada nos últimos anos na economia nacional?
Há duas dinâmicas: a crescente capacidade do sistema de educação em formar pessoas cada vez mais qualificadas, bastante evidente na conclusão de estudos do ensino secundário e superior em Portugal; e a requalificação de activos, numa parceria muito virtuosa entre IEFP, politécnicos e empresas. Também por isso há boa resposta de empregabilidade. Nos últimos dez anos substituímos cerca de 1,2 milhões de pessoas no mercado de trabalho com habilitações abaixo do ensino secundário por pessoas com mais do que esse grau. Esta dinâmica significativa também é visível na recuperação líquida do emprego, que é superior entre quem tem mais que o ensino secundário.
A realidade e os trabalhadores portugueses têm algumas vantagens específicas que permitam ao País avançar mais depressa na adaptação à nova revolução?
A principal vantagem é termos competências adequadas e aí estamos numa posição que, embora não tão boa como a de alguns parceiros europeus, está a melhorar. Além das competências técnicas em matérias especializadas das TIC ou do digital, há um apelo grande a competências transversais como a criatividade e inovação, onde temos tradicionalmente bom reconhecimento, como no planeamento ou na organização.
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