Jaime Andrez, presidente do COMPETE 2020, defende que a transformação digital e a inovação têm de fazer parte do plano orientador das empresas nacionais, que, na sua opinião, têm investido na percussão deste caminho em direção ao futuro.
A I4.0 está na ordem do dia e é um tema estratégico incontornável para qualquer empresa que pretenda manter ou reforçar a sua competitividade no futuro próximo, tendo vindo a influenciar a alteração dos modelos de negócio das empresas, desde a concepção de produtos e processos de produção até às vendas e ao apoio ao cliente, passando pela investigação e desenvolvimento, à organização, gestão financeira e, claro, pelo marketing.
Na verdade, o mundo enfrenta uma grande onda de mudanças associadas à transformação digital, tendo implicações estruturais em todos os aspectos da sociedade, incluindo vida privada, administração pública, estrutura industrial e emprego.
Nesta nova era, a inovação incide sobretudo no modelo de negócio o qual integra o processo inovativo em todas as áreas funcionais da empresa, ou seja, implica uma abordagem holística da inovação.
Do industrial e serviços para o tecnológico e digital, a economia atravessa actualmente uma enorme transformação e está a entrar em terreno novo, surgem empresas com processos mais modernos, simples e interactivos entre fornecedor e consumidor, que proporcionam melhores experiências, substituindo anteriores modelos de negócio.
Hoje, Portugal é um dos países que mais utiliza e implementa novas ferramentas e tecnologias de informação. Encontra-se nos primeiros lugares do ranking mundial de e-government, e-banking e da acessibilidade ao mundo digital. O nosso país também é um conceituado fabricante de plataformas de software, implementadas por todo o mundo, com especial destaque na lusofonia, um mercado com mais de 260 milhões de pessoas.
O mundo da computação é tão natural no nosso dia a dia que hoje a nossa vida seria quase impossível de imaginar sem este conjunto de recursos tecnológicos integrados entre si, que proporcionam, por meio das funções de hardware, software e telecomunicação, a automação e comunicação dos processos de negócios, da pesquisa científica, de ensino e aprendizagem e do tratamento de dados em alta escala, ou seja, data analytics.
O céu é o limite para a inovação
Este maravilhoso ‘mundo sempre novo’, ainda jovem, tem o céu como limite para a inovação e um impacto profundo na competitividade do país. A indústria vive um processo de mudança revolucionária: num futuro, que já é presente, podemos esperar ver fábricas que operam como um único complexo integrado. Dispositivos de fabricação automatizada conectados, associados a um processo de negócios que controla o fluxo de materiais e logística.
Nestes novos espaços, os recursos humanos ganham uma importância crescente, assumindo novos perfis funcionais. Libertos de processos mecânicos e rotineiros, facilitados pela robotização de segunda geração e pela inteligência artificial, a aposta crescente está na criatividade e no processo de adaptação inteligente e de procura constante de vantagens competitivas. Falamos de uma robotização integrada com máquinas a comunicar entre si, homens a comunicar entre si e máquinas e homens a comunicar entre si.
Não estamos no momento zero da transformação digital. Numa perspetiva geral, qualquer negócio tem, no mínimo, um website. Ou então, gere os seus processos de produção recorrendo a tecnologias que permitam monitorizar cada equipamento, prever níveis de produção e, entre outras, assegurar a qualidade.
Mas a transformação digital é muito mais do que isto. Envolve ajustar o modelo de negócio beneficiando dos avanços tecnológicos, repensando os processos internos e a gestão da relação com o cliente. Actualmente os clientes estão online, logo pensar o negócio passa por pensar estrategicamente o digital.
Esta revolução silenciosa vai otimizando toda a cadeia de valor de uma organização, aumentando a produtividade dos processos e reduzindo custos. Através da digitalização e automatização dos processos tradicionais – desde a conceção à produção, até ao atendimento ao cliente e serviço pós-venda –, estes tornam-se mais transparentes, previsíveis, controláveis e interligados. O resultado é visível: maior satisfação para o cliente e maior sustentabilidade para a empresa.
Se, em 2015, a transformação digital era uma tendência no mundo dos negócios, hoje em dia ela é incontornável – quem não estiver atento, arrisca a rápida obsolescência. As projecções para 2019 apontam para um maior aperfeiçoamento de tecnologias já existentes e um maior investimento por parte das organizações na promoção da transformação digital nos negócios.
Esta descrição não é ficção, é um desafio a que as empresas portuguesas, a envolvente empresarial e as entidades da administração pública estão a responder de forma activa e encontram nos instrumentos do COMPETE 2020 a alavanca ajustada.
As diferentes etapas da digitalização
A abordagem a esta temática estratégica integra diferentes etapas:
- A capacitação para a promoção das tecnologias 4.0 envolveu a realização de um estudo efectuado pela Deloitte que inspirou as primeiras medidas geridas pela COTEC e permitiu estabelecer os “Referenciais das Tecnologias 4.0” (site e avisos); e fundamentou a adesão ao Projecto Interreg “Translating i4.0 to improved SME policy instruments targeting innovation”, com oito parceiros de cinco países da União Europeia, cujo objectivo é melhorar os instrumentos de política pública de apoio às PME, ajudando-as a enfrentar melhor os desafios deste novo paradigma (i4.0), respondendo a sete questões temáticas específicas:
• Inovação no desenvolvimento de software;
• Eficácia dos fundos públicos no apoio à I&D industrial em i4.0;
• Introduzir a i4.0 nas indústrias tradicionais;
• Definição de iniciativas de políticas públicas i4.0;
• Ajustar concursos ou call para os requisitos da i4.0;
• Desenvolver metodologias de avaliação de mercado;
• Definição de uma matriz de avaliação de maturidade da i4.0.
Ao COMPETE 2020 cabe responder à “Definição de iniciativas de políticas públicas i4.0”, temática que foi objecto da Terceira Reunião Transnacional do projecto que decorreu entre os dias 19 e 20 de novembro de 2019.
- Promoção da i4.0 nas empresas através da criação de Instrumentos temáticos, exclusivamente para a i4.0; da majoração do mérito para os projetos que se enquadrem nos Referenciais da i4.0; da majoração do incentivo para os projetos que se enquadrem nos Referenciais da i4.0 e de dotações específicas para os projetos que se enquadrem nos Referenciais da i4.0
- Promoção de uma Administração Pública I4.0: o Sistema de Apoio de Apoio à Transformação Digital da Administração Pública (SATDAP) que disponibiliza aos organismos públicos uma ferramenta de apoio ao investimento que lhe permite efetivarem os processos de transformação necessários para que a Administração Pública possa encetar um processo de evolução que viabilize a disponibilização de serviços públicos mais inteligentes, mais próximos das necessidades dos cidadãos e das empresas, com maior sustentabilidade económica e efetivamente suscetíveis de gerar Valor Público.
No âmbito dos cinco avisos dos Sistemas de Incentivos orientados para a I4.0, o último ponto de situação mostra a relevância desta temática para as empresas: foram aprovados 1278 projetos, envolvendo 2,2 mil milhões de euros de investimento. Destaque para os domínios dos Sistemas Avançados de Informação e da conetividade entre sistemas, equipamentos, produtos e pessoas.
“Este maravilhoso ‘mundo sempre novo’, ainda jovem, tem o céu como limite para a inovação e um impacto profundo na competitividade do país”
Jaime Andrez
Licenciado em Organização e Gestão de Empresas, em 1978, pelo ISEG – Instituto Superior de Economia e Gestão, da Universidade de Lisboa, Jaime Andrez é actualmente presidente da Comissão Directiva do programa COMPETE 2020, responsável por assegurar uma seleção criteriosa de candidaturas criadoras de valor para a sociedade e para a economia.
É, ainda, professor catedrático convidado do ISEG, da Universidade de Lisboa, e presidente dos Conselhos Gerais do Fundo FINOVA e do Fundo de Coinvestimento 200M, posições que acumula com o papel de Coordenador da Rede do Sistema de Incentivos do Programa Portugal 2020 e com a presidência da Comissão Técnica de Sistemas de Incentivos em Portugal.
Anteriormente, passou ainda por diversos cargos de responsabilidade em instituições relevantes da sociedade portuguesa, nomeadamente na Autoridade da Concorrência, no IAPMEI, na Inovcapital ou ainda no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), experiências profissionais que lhe conferem uma visão ampla e abrangente do funcionamento das empresas, do Estado e das instituições europeias. Desempenhou, também, o cargo de Secretário de Estado do Comércio e do Turismo durante o XIII Governo Constitucional.
Competir com apoio
A Autoridade de Gestão do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização, designado de Compete 2020, foi criada por Resolução do Conselho de Ministros, em 2014, com o objectivo de ser uma instituição de referência na concessão de incentivos à promoção da competitividade e da internacionalização, promovendo a consolidação das vantagens competitivas na economia. Nasceu no âmbito de um acordo de parceria entre Portugal e a Comissão Europeia para a aplicação dos Fundos Europeus Estruturais e de Investimento (FEEI) em Portugal entre 2014 e 2020. Este acordo é operacionalizado através de um conjunto de programas operacionais, em torno de duas dimensões transversais: a reforma da Administração Pública e a territorialização de políticas. Segundo os quatro programas operacionais temáticos, o Compete 2020 ficou responsável pela Competitividade e Internacionalização.
A principal missão do Compete 2020 é assegurar as condições adequadas, ao nível das competências, das práticas e da articulação institucional, para uma selecção de candidaturas orientada para a criação e agregação de valor a produtos e serviços inovadores e para a promoção da coesão e integração territorial.
Para as empresas, o Portugal 2020 representa uma oportunidade fundamental para o desenvolvimento de projectos de investimento assentes em três sistemas de incentivos (SI): o SI Inovação Empresarial e Empreendedorismo, o SI Qualificação e Internacionalização de PME e o SI Investigação e Desenvolvimento Tecnológico. O Compete 2020 fornece apoios através do SI Inovação Produtiva e Inovação Empresarial e apoios através do SATDAP – Sistema de Apoios à Transformação Digital da Administração Pública.
Os sistemas de incentivo
O SI Inovação Produtiva visa promover a inovação empresarial, nos domínios da produção de novos bens e serviços ou melhorias significativas da produção actual, através da transferência e aplicação de conhecimento e da adopção de novos ou significativamente melhorados processos ou métodos de fabrico, de logística e distribuição, bem como métodos organizacionais. São beneficiárias desta medida as empresas de qualquer natureza e sob qualquer forma jurídica. As PME que se proponham investir com projectos elegíveis no SI Inovação beneficiarão logo à partida de uma componente de subsídio não reembolsável (anteriormente apenas atribuída sob a forma de isenção de reembolso após a aferição do cumprimento dos resultados), sendo o anterior subsídio reembolsável substituído por um empréstimo bancário sem juros. Destaca-se a possibilidade de as empresas poderem apresentar candidatura sem recorrer a empréstimo bancário. Se prescindirem desta vertente poderão beneficiar de uma majoração na taxa de apoio de 5%, caso financiem o projecto com um mínimo de 25% dos capitais próprios. O incentivo situa-se entre os 15% e os 75%, sendo 50% do valor total através de subsídio não reembolsável (a atribuir no âmbito do SI Inovação) e 50% através de um empréstimo bancário sem juros, associado a um instrumento financeiro financiado pelo Portugal 2020.
O outro sistema de incentivo, o SATDAP, é destinado à Administração Pública. Através dele pretende-se reduzir os custos de contexto e a qualificação da prestação do serviço público, através da melhoria do desempenho da Administração Pública e do estímulo à melhoria da capacidade de resposta às necessidades dos cidadãos e das empresas.
O seu objectivo é a transformação digital ao nível do relacionamento com os cidadãos e empresas, da transformação dos processos operacionais e da alteração do modelo e da oferta de bens e serviços públicos. Neste contexto, são apoiadas operações de modernização, de capacitação, como simplificação legislativa, de racionalidade processual, entre outras, e ainda na formação de trabalhadores em funções públicas. Destinam-se a entidades da administração central, das empresas que prestam serviços públicos, e outros níveis da administração.
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