O XII Encontro COTEC EUROPA contou com a presença dos Chefes de Estado de Espanha, Itália e Portugal, bem como de líderes empresariais dos três países, num total superior a 500 participantes, incluindo 120 representantes de media nacionais e internacionais, esta quarta-feira, no Convento de Mafra.
Subordinado ao tema “WORK 4.0, Rethinking the Human-Technology Alliance”, e tendo por contexto um novo relatório conjunto elaborado pelas organizações COTEC, os painéis de discussão contaram com a participação de líderes empresariais dos três países, representantes das esferas académicas, sociais e políticas, em diálogo sobre os desafios, riscos e oportunidades inerentes à transição em curso para um contexto económico e social dominado por novas formas de colaboração e ligações entre pessoas e máquinas inteligentes.
Contexto Económico facilita a mudança
O Encontro COTEC Europa 2018 ocorreu num contexto favorável da Economia mundial, europeia e dos países da COTEC. Aos indicadores de desempenho económico, junta-se a subida crescente dos índices de confiança e índices de desemprego em declínio. Estão, por isso, criadas condições para um salto qualitativo protagonizado pela aplicação consolidada das tecnologias digitais no contexto da Revolução Industrial 4.0. O sucesso desta transição será determinado à força da economia e ao equilíbrio que se consiga estabelecer entre a economia e as aspirações dos cidadãos e das sociedades.
A Transformação do Trabalho é um problema complexo do qual as questões de qualificação e reconversão de competências constituem apenas um dos fatores que o compõem. Para a compreensão cabal do desafio é necessário tomar uma visão sistémica das aspirações e necessidades dos diferentes atores para uma gestão da mudança comportamental nas organizações e nas sociedades.
Perspetiva Política positiva
O evento abriu com as declarações de Manuel Caldeira Cabral, Ministro da Economia, que afirmou que “esta revolução da digitalização está já a trazer fortes mudanças às empresas, à forma como trabalham e à organização do trabalho. Mas há uma noção bastante clara de que muitas das mudanças estão a acontecer em áreas piloto, estão a acontecer em algumas empresas, mas vão-se generalizar a muitas mais. E estão a acontecer ainda apenas até um certo ponto, tendo um potencial muito maior para desenvolvimento.” Ao mesmo tempo, sublinhou que as políticas públicas devem privilegiar a capacitação dos trabalhadores para beneficiarem do avanço das novas tecnologias em detrimento de regulação que limite a chegada destas tecnologias ao mercado.
Por sua vez, a Secretária de Estado da Indústria, Ana Teresa Lehmann, fez um balanço positivo do primeiro ano da estratégia nacional para a Indústria 4.0.
O fator humano será decisivo
Os Diretores-gerais das organizações COTEC enquadraram o tema do evento. Segundo Jorge Portugal, Diretor-Geral da COTEC Portugal, “para terem as preferências dos clientes, as empresas precisam de responder cada vez mais depressa e com melhor qualidade nos produtos e serviços. Hoje, as expetativas de desempenho são cada vez maiores, o standard de serviço é o de empresas como a AMAZON e é por ele que os clientes medem a qualidade de todos os outros. Têm assim que funcionar em regime de resposta instantânea”. Acrescentou que “para funcionarem numa escala de tempo cada vez mais curta sem aumentar o stress, angústia e sensação de perda de controlo, é preciso que as pessoas, a todos os níveis da organização, se sintam capacitadas com clareza de objectivos, autonomia, meios e consequente responsabilidade por funções com esferas de âmbito crescente”.
O diálogo entre um futurista, um humorista e um sociólogo permitiu confrontar as perspectivas de Arlindo Oliveira, presidente do Instituto Superior Técnico, Carvalho da Silva, sociólogo e investigador, e Eduardo Madeira, humorista e argumentista.
O futurista definiu o palco tecnológico e de campos de inteligência humana e artificial, em que poderá decorrer a vida das sociedades, das pessoas e das suas comunidades. O humorista exprimiu criativamente o pensar e sentir do homem comum europeu de 2018, da linguagem da rua, refletindo o estado de consciência digital, as aspirações e os medos. O sociólogo conciliou a teoria com uma longa prática de vida sindical, juntando à abordagem anterior do individual a dimensão do coletivo, da representatividade dos trabalhadores.
O debate vivo e por vezes polémico, versou a necessidade de preservar o direito ao tempo das pessoas, as novas formas de trabalho, a necessidade de existência de regulação e os riscos de que esta nova revolução possa trazer mais desigualdade.
No painel dedicado à experiência empresarial, com participação de Pedro Rocha e Melo, vice-presidente da Brisa, José Manuel González-Paramo, administrador executivo do BBVA, e Cristiano Camponeschi, partner da Deloitte, foram discutidos os casos concretos de transformação digital para adaptação às exigências do mercado, incluindo o ambiente de trabalho e a preparação das pessoas para novos processos de negócio.
Na sessão institucional, a Comissão Europeia esteve representada pelo Comissário para a Investigação, Ciência e Inovação. Carlos Moedas sublinhou os fossos que importa vencer a prazo, nomeadamente, “na interseção do digital com o físico” e entre os EUA e a UE, em termos de comercialização da tecnologia de última geração. Ainda segundo o Comissário, “o maior ativo na Europa é a diversidade. Hoje, não podemos inovar sem diversidade. E isso vejo-o em qualquer país. A Finlândia está a mudar o sistema de Ensino com esta interseção. É um mundo onde temos de ensinar as pessoas a não terem medo”.
O Presidente da COTEC Portugal, Francisco de Lacerda, destacou a ideia de que “esta é uma revolução de Pessoas. E é de pessoas que hoje se fala. As pessoas são e continuarão a ser o capital mais importante das empresas e das sociedades. Empresas que estarão num estado de permanente necessidade de transformação, para a qual todos temos de nos preparar e adaptar. Sem essa preparação, assistiremos a uma inevitável degradação dos ambientes de trabalho e da qualidade de vida” – rematou o Presidente da Direção da COTEC Portugal.
O XII Encontro COTEC EUROPA encerrou com intervenções dos três chefes de Estado. Primeiro, Sua Excelência o Presidente de Itália, Sergio Mattarella, apontou que “o tema escolhido para esta nossa reflexão na era digital é um dos desafios mais delicados que a União Europeia, no seu conjunto, tem de enfrentar”. Acrescentando aindaque “houve mudanças radicais nos tecidos sociais dos nossos países”, o que parece evidenciar “uma economia onde os recursos parecem ser ilimitados e ilimitadas também parecem ser as suas utilizações”. Sua Majestade, o Rei de Espanha, D. Filipe IV de Espanha, discursou de seguida alertando para a ideia de que “o caminho que tem vindo a ser percorrido por estas tecnologias não está livre de obstáculos”. Contudo, “as sociedades que lideraram a revolução industrial são hoje das mais ricas” e, acrescenta D. Filipe IV de Espanha, “no último século, o emprego mais qualificado e diversificado não deixou de crescer à escala mundial”.
Por último, Sua Excelência o Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, no discurso de encerramento, observou que “temos de continuar a ser universais, como foi Roma, berço da nossa matriz latina. Temos de ser profundamente europeus, refazendo a União Europeia, sem hesitações e estados de alma”. Neste sentido, continuou o Presidente da República, “é patente o sucesso das nossas empresas e dos nossos empresários. A maioria, constituída por micro, pequenas e médias empresas, enfrentando as crises do começo do século e entendendo que um novo paradigma tinha aberto um ciclo diferente na economia mundial e nas economias nacionais”. Ora, “esta economia 4.0 não exigiria uma União Europeia 4.0? Concordo que nada parará a mudança, mas ela poderá ser mais ou menos rápida e mais ou menos justa” – questionou o Presidente.