Avaliar a maturidade digital para evoluir

Com um índice de maturidade global a rondar os 68 pontos, o que é ainda baixo, as empresas portugueses têm ao seu dispor instrumentos fundamentais, como o THEIA e o Innovation Scoring, que fazem o diagnóstico da maturidade e apontam caminhos de melhoria

Não é possível avaliar a maturidade digital das empresas sem abordar igualmente a maturidade da gestão das mesmas, já que são conceitos indissociáveis. Segundo Pedro Simões Coelho, Professor Catedrático e presidente do Conselho Cientifico da Nova IMS, o nível de maturidade digital é revelador da maturidade da gestão empresarial, pois o grau de digitalização tira partido das decisões tomadas pela própria gestão. Não será, por isso, difícil de compreender que uma estará dependente da outra.
A COTEC Portugal realizou, em parceria com a Nova IMS, o primeiro e mais abrangente estudo sobre maturidade digital em Portugal, research realizado junto de cerca de 300 empresas de várias dimensões e de vários sectores de actividade e que permitiu perceber a existência de uma significativa relação entre o nível de maturidade digital das empresas e o seu desempenho de mercado, no que diz respeito ao volume de negócios, ao valor acrescentado bruto gerado e até à capacidade exportadora. Assim, a maturidade digital envolve itens como a orientação para a inovação e gestão da mudança, gestão de activos intangíveis, operações e processos e ainda orientação para o mercado. Ou seja, o digital não altera os princípios de gestão, cria é novas possibilidades, daí que seja de extrema importância a capacitação dos gestores e de toda a organização para fazer face aos desafios dos processos de inovação digital, porque na base tem de estar uma estratégia orientada para estas temáticas. “A maturidade digital não se confunde nem se limita à adopção de tecnologias. A maturidade digital na verdade não é mais do que a própria maturidade da gestão, que tira partido da digitalização para aumentar a eficiência dos processos de negócio, para aumentar as propostas de valor para os seus clientes, nomeadamente através de maiores níveis de personalização da sua oferta e que suporta a sua tomada de decisão com dados e análises que permitem decisões mais rápidas, fundamentadas e indutoras de inovação”, explica Pedro Simões Coelho.


Segundo este responsável o estudo demonstra, através de dados nacionais, a existência de uma relação causa-efeito entre a maturidade digital das organizações e indicadores chave do seu desempenho no mercado. “A título de exemplo, estima-se que o aumento de 10 pontos no índice de maturidade digital (em escala de 0 a 100), para uma média empresa com um nível de maturidade digital também mediano induz um crescimento de 5% no seu volume de negócios e de mais de 10% no seu valor acrescentado bruto”, explica este responsável. O estudo conclui que o Índice Global de Maturidade dos inquiridos se situa nos 68 pontos e que a Orientação para o Mercado é a componente que apresenta um grau de maturidade mais baixo, com 61 pontos. Já o índice de maturidade das grandes empresas em matéria de i4.0, que é de 75 pontos, dista apenas em 7 pontos do das PME, que atinge os 68 pontos. O índice da maturidade digital das empresas é mais baixo no sector do Alojamento e Restauração e mais elevado nos Serviços, sendo que o índice de maturidade das empresas exportadoras e não exportadoras é muito similar, correspondendo a 69 pontos no primeiro grupo e 67 pontos no segundo. “Estes resultados são fundamentais porque permitem perceber que a digitalização e a maturidade da respectiva gestão, mais do que uma moda ou de uma imposição do mercado, têm impactos concretos no negócio, que são mensuráveis e que podem ser antecipados por qualquer empresa”, refere Pedro Simões Coelho.

Theia, a ferramenta para o check up


Como não há cura sem diagnóstico nem melhoria sem identificação dos problemas, só com um check-up total aos negócios se consegue traçar metas, encontrar soluções e evoluir. Foi o que levou a COTEC Portugal a criar, no âmbito da Plataforma Portugal i4.0 (com que pretende capacitar e qualificar as PME para enfrentarem os desafios da indústria 4.0) o instrumento THEIA – Technological and Holistic Engagement for Industry 4.0 Assessment.
Este modelo de avaliação da maturidade da Indústria 4.0 é uma ferramenta essencial para o autodiagnóstico das PME, através da qual é possível compreenderem o seu posicionamento, como estão a preparar-se e, sobretudo, identificar as áreas em que devem apostar. Através dele consegue-se obter informação significativa sobre o estado de maturidade das organizações portuguesas e entender o seu grau de conhecimento destas temáticas, além de um mapeamento mais preciso das necessidades das empresas.
Este modelo de avaliação, já disponível no site da COTEC Portugal, consiste num questionário de 30 perguntas que orientam a empresa a perceber onde está hoje e onde pretende estar em três anos. Além de avaliar, o modelo dará indicações de medidas concretas que poderão ser aplicadas para a evolução de nível e apoio na implementação. Na sua base está um benchmarking de 11 modelos de maturidade digital, nacionais e internacionais, envolvendo ainda a realização de entrevistas com representantes de vários sectores industriais. O modelo está organizado em cinco grandes áreas, cuja avaliação é feita através de questões específicas para cada uma dessas dimensões.

Innovation Scoring para melhoria da inovação


Esta nova ferramenta, que avalia a maturidade digital, é complementar a uma outra já disponibilizada pela COTEC Portugal desde 2008, e desenvolvida em parceria com o IAPMEI, o Innovation Scoring, que avalia as capacidades e desempenho das empresas em termos de processos de gestão de inovação. Este instrumento, tal como o THEIA, possibilita não só o autodiagnóstico, como a obtenção de um conhecimento mais aprofundado das diferentes dimensões que sustentam os processos de inovação e a identificação de áreas de melhoria.
Desde o seu lançamento, já foi utilizada por mais de mil empresas em Portugal, que têm ainda a possibilidade de obter um conjunto de vantagens oferecidas pela COTEC e pelo IAPMEI. Em 2017, a ferramenta foi alvo de uma reformulação, com o apoio da Deloitte, tendo em conta a melhoria das funcionalidades, desenhando-se assim uma nova geração, o Innovation Scoring 2.0.
A análise do desempenho das principais dimensões do processo de inovação por esta via permitiu também a produção de um research sobre o impacto da inovação no desempenho económico-financeiro das PME nacionais, designado de “Destino: Crescimento e Inovação”. Assim, a conclusão geral é de que as PME inovadoras partilham um conjunto de características que as diferenciam das demais: têm uma estratégia de inovação clara, sustentada e agregadora; configuram a sua organização para inovar recorrentemente; definem processos para operacionalizar a sua estratégia; e desenvolvem actividades transversais para potenciar a inovação. Além disso, concluiu-se também que as PME mais inovadoras registam performances económico-financeiras superiores às restantes PME, como um volume de negócios 3,7 vezes superior, com uma taxa de crescimento anual superior em 10 pontos percentuais, e um crescimento do resultado líquido 7,8 vezes superior.


Esta ferramenta deu ainda origem a um Manual de Boas Práticas, disponível online, onde se divulgam 40 boas práticas, relativas a casos práticos. Um desses casos é o da Bluepharma, empresa farmacêutica de Coimbra, que venceu o prémio PME Inovação em 2012. Todo o seu percurso na área da evolução do negócio e inovação está descrito num case study desenvolvido pelo ISCTE-IUL, que poderá servir de inspiração. A Bluepharma iniciou a sua actividade em 2001, na sequência da aquisição de uma unidade industrial da Bayer, e tem já várias patentes registadas.
Já a JPM – Automação e Equipamentos Industriais, vencedora do Prémio PME Inovação COTEC-BPI, utilizou o Innovation Scoring para poder estruturar os seus processos de inovação e construir novas áreas de crescimento, tendo atingido a pontuação mais significativa nas áreas de Organização e Impacto. Esta empresa de Vale de Cambra tem um vasto know-how assente em transportadoras industriais, automação e paletização e é hoje uma referência mundial no mercado da intralogística, estando presente em 40 mercados, com mais de duas mil instalações em fábricas. Também a Celoplás, vencedora do PME Inovação em 2014, é um exemplo de uma empresa que tirou partido da ferramenta Innovation Scoring. Criada em 1989 no distrito de Braga, a Celoplás dedica-se à concepção, desenvolvimento e produção de moldes e componentes de elevada precisão pelo processo de moldagem por injecção para as indústrias eléctrica, electrónica, automóvel e, mais recentemente, para o sector da saúde.

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