“Construção 4.0: do projetista ao construtor e ao jurista” foi o tema da conferência promovida esta terça-feira, 18 de setembro de 2018, pela Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados (MLGTS) e pela COTEC Portugal. O Building Information Modelling (BIM) para a fileira da construção foi o principal tema abordado.
Esta metodologia é muito mais que uma solução tecnológica para a construção em 3D. Surge no contexto da digitalização e foca-se na comunicação de informação entre os intervenientes, incluindo as áreas de projeto, engenharia, construção e manutenção de estruturas.
A presidente da COTEC, Isabel Furtado, assinalou as vantagens da utilização de BIM «na redução de custos, tempo de execução ou impacto ambiental», que não podem ser ignoradas. Na sua intervenção, a responsável sublinhou que o mercado global de construção vertical e de infraestruturas deverá adotar a metodologia BIM na próxima década, uma iniciativa que, antecipa-se, poderá representar economias de entre 15% a 25%.
Já Nuno Peres Alves, sócio/partner da MLGTS, referiu que «o paradigma jurídico dos contratos de construção, designadamente nas empreitadas de obras públicas, muda com a metodologia BIM, se se pretender captar todo o valor que esta traz à fileira da construção». Na verdade, a referida metodologia «tem um enorme potencial para diminuir o número de litígios judiciais relativos a erros ou omissões e “trabalhos a mais”, mas servirá também como meio de prova fundamental, quer na fase de execução, quer em cenário de litígios», sintetizou o jurista. Nuno Peres Alves lembra que «uma visão fragmentada dos contratos de construção – públicos ou privados – deverá ser substituída por uma visão integrada de todas as fases, com incidência na utilização de novos modelos contratuais e na revisão cuidadosa e prudente da lei e normas regulamentares».
Mediante a modelação BIM é possível fazer o planeamento dos recursos (humanos e materiais) das obras, assegurando uma velocidade de execução impossível de outro modo. A metodologia permite poupar custos na execução em obra, potenciar economias de escala, por exemplo na aquisição de matérias-primas, entre outras vantagens como a possibilidade de colaboração entre empresas.
Esta colaboração poderá acontecer tanto na fase de projeto como de execução da empreitada, facilitando claramente o trabalho nesta área. Outras mais-valias da metodologia surgem associadas à possibilidade de eliminação de erros e omissões e a uma muito maior rastreabilidade do historial da obra.
Noutras geografias, há mais de uma década que a metodologia é aplicada, com cariz obrigatório (Noruega e Finlândia são disso exemplos). Desde 2016, no Reino Unido, todos os projetos que envolvem a aquisição do Estado central são realizados deste modo. Esta situação será replicada em Espanha ainda durante o corrente ano e na Alemanha em 2020.
Por cá a metodologia ainda não é aplicada comummente. O Estado, como primeira entidade adjudicante de estruturas, deverá constituir-se como um agente de mudança, dando o exemplo ao usar BIM nos procedimentos de aquisição quer na fase de conceção como de execução e retirando daí benefícios que vão da maior transparência e menores custos a uma maior qualidade da obra. Em suma, a metodologia BIM é uma oportunidade para a fileira da construção e para todos os seus profissionais.
Entretanto, fica o alerta: «a indústria da construção em Portugal ainda não está preparada para esta nova era da construção», como é afirmado no relatório BIM da COTEC, coordenado por António Aguiar Costa, e reforçado pela presidente da COTEC esta terça-feira. «Trata-se de um desafio que exigirá a mobilização da fileira nacional para uma abordagem integrada e coordenada».